Conexões entre livro digital e livro impresso


Já contei antes para algumas pessoas que decidi apostar no e-book antes da publicação impressa por duas razões: 1) mesmo que eu não conseguisse vender nenhum exemplar (o que, felizmente, não se confirmou), não teria incorrido em desperdício de material, energia (sob o enfoque de aspectos ambientais) e grana e não ficaria com um monte de caixas ofertando alimento às traças e 2) a inexistência de barreira para a distribuição do livro digital, em tese, favorece tremendamente o seu alcance  em termos de número de leitores, territórios abrangidos e até mesmo condições sociais para aquisição (já que o e-book pode ser muito mais barato que o impresso). Isso tudo dentro de uma visão muito lúcida quanto à minha insignificância enquanto autora totalmente desconhecida e que não aborda temas populares / potencialmente vendáveis.

Também já contei sobre minha desconfiança quanto ao termo “literatura digital”, que acabou por ser (ao menos parcialmente) desmontada quando topei o desafio de produzir algo que pudesse ser definido com essa alcunha. Pois graças à provocação inicial do Marcelo Spalding, que me provocou a criar uma literatura pensada para o meio digital agora o Labirintos Sazonais acaba de ser contemplado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul e vai sair dos bytes para as páginas. Ao invés de uma adaptação do digital para acolher o que já havia em páginas, isso demandará um belo esforço de criatividade e alternativas de impressão para trazer ao papel a possibilidade de leitura não linear proposta no Labirintos – onde o leitor escolhe uma entre quatro alternativas possíveis de início, de meio e de fim da história, totalizando, por combinações, 64 histórias diferentes conforme a estação do ano eleita.

Mas o foco principal do projeto não é conseguir a publicação de um livro (embora isso me deixe obviamente feliz, muito… aliás) mas provocar o interesse pela leitura através de atividades com professores e potenciais leitores. Explico. Vamos realizar oficinas em escolas públicas de quatro municípios onde conseguirmos mobilizar professores de matemática (já que o texto foi estruturado com base em análise combinatória), idiomas (porque há versão em inglês e português), educação artística (focando no uso da fotografia digital como complemento aos textos) e literatura (dispensa razões, não é?) para que os alunos-leitores sintam a integração da leitura com outras áreas de conhecimento, experimentem o envolvimento com o texto ( já que podem escolher a composição da história através das estações do ano) e, esperamos, passem a ler mais.

O fato do projeto ter sido aprovado e contemplado com recursos foi uma grata surpresa. Sem retórica, eu realmente não esperava que isso acontecesse, pois apenas vinte projetos seriam selecionados nessa categoria e eu não tinha experiência alguma na elaboração desse tipo de proposta (e para isso a ajuda de Rogers Silva foi crucial!). Contar com parceiros qualificados também foi um ponto importantíssimo – procurei cercar-me de pessoas comprometidas com o livro – tanto o digital como o impresso – e a leitura  e isso, na execução do projeto, nos dará a chance de contribuir, mesmo que modestamente, para fazer florescer o gosto pela leitura, apresentando novas formas de acesso e fontes de leitura gratuita. Não temos garantia de que a ideia trará resultados concretos, ao menos não no curto prazo, mas confesso uma grande excitação e expectativa por estar envolvida em algo com esse objetivo.  E se essa brincadeira em que consiste o Labirintos Sazonais puder contribuir para fomentar a paixão pela leitura em alguém, a satisfação será imensa!

E no meio disso tudo, fica a pergunta se casos assim de vínculo / aproximação entre o digital e o impresso serão mais frequentes ou ainda continuaremos a insistir em discussões sobre quem “vencerá” – o byte ou o papel? Sou da opinião de que ler no digital deve ser visto como uma possibilidade a mais a serviço dos reais ganhos da leitura, não porque seja uma nova ou melhor maneira de ler. E também sou bastante adepta de vida offline, então, vou ali me reunir com toda a galera que fará desse projeto algo muito bacana e já volto.

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Sobre Maurem Kayna

Maurem Kayna é Engenheira Florestal, baila flamenco e é apaixonada pela palavra como matéria-prima para a vida. Escreve contos, análises sobre a auto publicação e tem a pretensão de criar parágrafos perenes.

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