e-books no Brasil 1


o que mudou para os leitores?

Em 2010 publiquei meu primeiro e-book. Aproximadamente na mesma época ganhei um Kindle (que, aliás, ainda funciona muito bem obrigada!) e comecei a buscar informações sobre as possibilidades, limitações e peculiaridades desse formato de livro. Na época, li um artigo de Ednei Procópio sobre o e-book no contexto do mercado editoral brasileiro – poucas livrarias, insuficiente rede de bibliotecas públicas e um hábito de leitura de chorar no cantinho (a média por brasileiro seria de 1,8 livros lidos por ano, incluindo-se aí religiosos e didáticos).

Tudo levava a crer que tínhamos no Brasil um terreno fértil para a adoção de uma alternativa com grande potencial para alavancar o hábito de leitura do brasileiro (ao menos daqueles que já tinham o costume e o gosto pela leitura), mas o benefício dos e-books (mais baratos, fáceis de carregar para qualquer lugar em diferentes aparelhos de leitura) não atingiu a expressão sonhada por uns e temida por outros.

Em discussão desde 2010, a alteração da Lei 10753/2003,  que permitiria aplicar as mesmas isenções de tributos dos livros impressos também para e-books, ainda não foi aprovada, ainda assim, há diferenças de cenário a comemorar:

  • o número de e-books disponíveis em português saltou de 4.389 em abril de 2012 para 74.377  (pesquisa na Amazon.com.br em 03/2016)
  • partimos de uma realidade em que praticamente a única loja nacional a vender e-books aqui era a Gato Sabido (que já nem existe mais) para o atual em que a presença da Amazon, Apple e Kobo (via Cultura), além de todas as demais redes de livrarias passou a atender os clientes brasileiros (ao menos aqueles que já tem intimidade com compras pela web e/ou uso de aparelhos como tablets, smartphones e e-readers)
  • a diferença de preço entre o impresso e o digital continua na casa dos 30%, o que é considerado insuficiente por muitos, mas em tempos bicudos não pode ser considerando um percentual tão desprezível.

 Leitores de e-books abandonam os impressos?

A primeira resposta que posso oferecer é em relação aos meus próprios hábitos: continuo comprando (e lendo) tanto impressos como digitais. Dou certa preferência aos digitais pela possibilidade de carregá-los sempre comigo, mas dependendo do livro (poesias, por exemplo, ou edições muito bonitas), fico com o impresso.  Quanto aos hábitos do leitor brasileiro, não encontrei uma estatística atualizada (essa dissertação é de 2011), portanto anterior às vendas de e-readers em lojas brasileiras.

De outro lado, posso testemunhar que muitos leitores realmente abandonaram o impresso (especialmente os que possuem e-readers) e só recorrem ao impresso quando a edição não está disponível em formato digital. Isso pode gerar calafrios no setor livreiro tradicional, mas para quem se preocupa com conteúdo, não deveria importar tanto assim.

 a velha questão tablet x e-reader

Ainda vejo um número enorme de detratores do e-book porque desconhece a possibilidade de leitura em um aparelho dedicado como o Kobo, o Kindle, o Lev ou qualquer outro com tela e-ink.  Já discuti o tema mais de uma vez, mas não considero excesso repetir algumas óbvias vantagens que só um e-reader tem (e, não…. eu não ganho nada fazendo esse tipo de “propaganda”, no máximo a remota possibilidade de alguém resolver ler meu e-book):

  • ler no e-reader é tão confortável quanto o livro impresso (ou mais, dependendo do peso do impresso);
  • a bateria do e-reader pode durar semanas, ao contrário de um tablet cuja autonomia dificilmente ultrapassará um dia
  • no e-reader não se recebe interferências de alertas de mensagens ou aplicativos durante a leitura
  • o e-reader é mais leve
  • posso ler ao ar livre sem reflexo na tela

Contudo, é preciso lucidez. Só vale a pena comprar um e-reader se você realmente lê bastante. Se o foco é apenas a leitura de PDF´s com textos técnicos, o único e-reader que parece funcionar bem é o LEV, os demais perdem para qualquer tablet no tocante à adaptação da página à tela. Se está na dúvida, recomendo esse artigo do Techtudo.

 


Sobre Maurem Kayna

Maurem Kayna é Engenheira Florestal, baila flamenco e é apaixonada pela palavra como matéria-prima para a vida. Escreve contos, análises sobre a auto publicação e tem a pretensão de criar parágrafos perenes.

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Um pensamento em “e-books no Brasil

  • Rafael Castellar das Neves

    Olá Maurem!

    Ótimas estatísticas…tenho tentado acompanhar estas tendências, mas só havia visto lá fora. Acabei entrando neste meio para tornar meus livros acessíveis, já que via editoras convencionais estava difícil.

    Mas tive que encarar a leitura digital, da qual eu tanto fugia. Até que vi um leitor de um amigo e conheci o e-ink… pensei: nossa, não é tão ruim! E realmente não é. Comprei o meu e não comprei mais livros impressos. Até li um que ganhei de aniversário (foi muito incômodo carregá-lo comigo..rs). Virei fã de um leitor e-ink, não leria num tablet como não leio em um computador, não são confortáveis estas telas…

    Mas ainda sinto falta de terminar um livro e colocar na minha prateleira…rs

    Abraços e obrigado por compartilhar!