Se você gosta de ler, é bastante provável que frequente ou já tenha frequentado uma biblioteca. E se gosta MUITO de ler, é ainda mais provável que as horas dispendidas nesse ambiente façam parte das suas boas memórias – incluindo todos os sentidos empregados na experiência da leitura, apesar das eventuais crises de rinite no caso de prédios úmidos ou povoadas de exemplares mais antigos.
Caso tenha se enquadrado nessa descrição, entre bucólica e saudosista, também não é impossível que esteja no grupo dos que torcem o nariz para o e-book, ao menos se a sua experiência com leitura de livros eletrônicos se restringe ao computador ou aos tablets. Entretanto, se já teve a oportunidade de provar o conforto de um e-reader, é mais difícil que, mesmo amando o cheiro e a experiência tátil dos livros, rejeite com ênfase a chance de carregar boa parte de sua biblioteca pessoal na bolsa ou na mochila. O uso pessoal, porém, é uma coisa, bibliotecas de verdade são outros quinhentos, certo? São praticamente templos a serem reverenciados e mantidos. Sim, isso eu acho que são mesmo e seu papel no incentivo à leitura é indiscutível. Mas já existe um novo modelo de biblioteca começando a se estabelecer, um modelo sem prateleiras repletas de volumes, talvez, sem um único livro sequer, e ainda assim capazes de armazenar um sem fim de conhecimento, literatura, informações, registros históricos.
O termo Biblioteca Digital pode abarcar certa variedade de situações, como digitalização dos acervos das bibliotecas físicas, uma boa medida, digamos, de backup e também de acesso. A Fundação Biblioteca Nacional (FBN), por exemplo, disponibiliza obras raras, documentos históricos e periódicos digitalizados através da Biblioteca Nacional Digital do Brasil, além de links para outras bibliotecas digitais do mundo. A BN da Espanha disponibilizou uma versão interativa da 1ª edição do Quixote de Cervantes, com direito a trilha sonora e um vídeo muito lúdico. São modos interessantes de ofertar conteúdo para quem não tem condições de ir até a biblioteca.
Mas você consegue imaginar uma biblioteca sem nenhum exemplar impresso? Ou uma “biblio tech”, como já estão sendo apelidadas? Pois sim. Na cidade de San Antonio, EUA, uma biblioteca pública funcionará com o empréstimo de aparelhos de leitura (e-readers) que poderão ficar com o leitor por até duas semanas (a partir daí estão programados para parar de funcionar). O idealizador da ideia não a vê como uma tendência de substituição, mas como uma alternativa ou complementação às bibliotecas tradicionais. Já a Biblioteca Pública de Nova York, que disponibiliza o seu acervo digital aos cidadãos americanos relata algo interessante – a partir da popularização dos e-books, viu crescer o número de visitantes, justamente por conta da sua oferta de “estantes digitais”. Lá, os usuários demonstram crescente interesse pelos e-ebooks, em todas as faixas etárias. Aliás, livros digitais são uma chance de acesso à leitura para os idosos, pois permitem ajustar o tamanho da fonte. O mais interessante é que na Biblioteca de NY, a equipe oferece até cursos presenciais para ensinar a usar o e-reader e instalar o software de empréstimos. É isso mesmo que você leu, existe empréstimo de e-books. Não de todos os títulos, claro, pois muitas editoras não aceitam acordos com as bibliotecas ou com outros serviços de empréstimo eletrônico (e-lending) temendo a redução das vendas.
E essa tecnologia toda, embora soe muito vanguarda para nosso cenário, já existe em 22 mil bibliotecas de diversas partes do mundo (segundo a revista Época), tanto públicas quanto de escolas e universidades. Através do armazenamento de e-books em uma nuvem, é possível efetuar empréstimos de obras por tempo limitado, variável conforme o título. Não vislumbro iniciativas semelhantes em território nacional num horizonte curto de tempo, mas penso que informar sobre o potencial desse modelo pode fazer um número maior de pessoas refletirem sobre o potencial dessas tecnologias e até estimular a concepção de outros modelos, adaptados ao nosso contexto.
Quem sabe alguém consegue se inspirar e fazer vingar por aqui um sistema como o Book-Lending – um portal onde usuários cadastram-se para emprestar e pegar emprestado títulos de e-books que tenham sido liberados pelas editoras para empréstimo (na verdade o sistema funciona para usuários do Brasil, mas os títulos liberados são, em sua maioria, em inglês).
E, a título de inspiração, seguem alguns links para bisbilhotar:
- Biblioteca de Livros Digitais – site de Portugal com livros online para publico infanto-juvenil, conta com apoio do governo português
- Biblioteca Digital Mundial – é como um portal para bibliotecas dos diferentes continentes
- Índice de Biblitoecas Digitais – a Universidade de Lisboa fez uma ordenação interessante de links.
E, falando agora em bibliotecas de maneira geral, qual a lembrança dentro de uma biblioteca que primeiro lhe ocorre? É que estou lendo “Um general na biblioteca” e cenas desse ambiente tem me povoado a mente.
Fontes consultadas:
Revista Época
O Estadão
Memórias aletórias e demais links citados no texto.