Interrupção
A rua estreita, de calçamento antigo, escorregadio depois do trânsito de muitas histórias, e ela. Conhecia cada uma das pedras em que pisaria e por isso já não tomava cuidado. Sabia da rua.
Não era habitual passarem carros naquele horário. O barulho que predominava quando desceu do meio-fio para chegar à outra esquina vinha dos copos e das frases ecoando, desordenadas, na cabeça alcoolizada. Já havia contado o número de passos daquela travessia. Muitas vezes, em tempos de bem antes, quando ainda era criança. Onze passos, sem pressa.
Um, dois, no terceiro titubeou com a lembrança de uma farpa ouvida na mesa do bar. Não respondera e agora nascia uma raiva sem muita força. No quinto passo ouviu um ronco, sem identificar a origem rumou ao número seis, sete. Quando balbuciou oito, o som tímido subiu no ar como seu corpo sem controle. Nove, dez e o baque abafado de osso e porre misturados com o polido da rua. O carro já havia sumido sem que alguém tivesse anotado placa ou modelo. Só viram que era branco, mas já a noite engolia qualquer desacerto e todo desencontro.