Desde que a curiosidade me levou participar de diversos fóruns virtuais onde se discutem questões relativas ao e-book, literatura digital e fomento à leitura já estive no meio de alguns embates sobre coisas como:
- a premente necessidade de “re-invenção” do livro;
- a importância de que os e-books não sejam apenas uma versão a mais do livro impresso;
- as possibilidades infinitas que o enhanced book traria
Minha posição? Gosto de ler. Amo a arquitetura com palavras. Não preciso de interatividade. Deixem o e-book ser um símile do impresso com as vantagens da portabilidade. As respostas? Sou uma retrógrada, uma saudosista fora de contexto e uma espécie em extinção.
A prática? Continuo lendo livros “caretas” e acredito que sempre os preferirei, mas quis o destino (ou o interesse pelo assunto) que mantivesse discussões e me aproximasse de pessoas que abordam o tema pela perspectiva investigativa. Sim, a academia, que tantos (muitas vezes eu mesma) criticam, vem estudando o chamado fenômeno da Literatura Digital. O escritor Marcelo Spalding, que suspendeu sua dedicação à ficção nos últimos tempos para mergulhar no assunto em função de sua tese de doutorado, depois de concluí-la acabou provocando a mim e a cronista Ana Mello para participar de um Projeto de Literatura Digital.
Mas, que diabos é isso de literatua digital? Bem, o Manifesto lá no site do projeto (olha que coisa mais metida!) explica, mas em suma, estamos falando basicamente de literatura (=texto) com recursos ou ferramentas não disponíveis numa versão impressa. Vago, não!? Ok, também acho. Mas o caso é que Ana e eu aceitamos o desafio de tentar produzir algo que não fosse simplesmente um texto cheio de enfeites, tampouco uma experimentação multimídia onde o texto não fosse o eixo.
Pensando em hipertexto e análise combinatória, saí do café onde conversamos com uma ideia muito confusa na cabeça e um prazo razoável para colocar os dedos no teclado. A ideia inicial não vingou (era um texto para brincar com o processo criativo de um autor de nossos tempos), mas durante as caminhadas na orla do Guaíba (não na margem portoalegrense), as variações climáticas extremas que marcaram o mês de janeiro foram configurando alguns parágrafos curtos que, com alguma influência das músicas do Cícero como pano de fundo, se consolidaram nos fragmentos que formam o quebra cabeças que, ao contrário dos puzzles tradicionais, podem ser montados de diferentes formas, ao gosto do leitor.
Enquanto escrevia o que se tornou o que se pode chamar de uma experiência genuína de literatura digital, a obra Labirintos Sazonais, testando no excel a coerência de todas as combinações, trocando e-mails com o Marcelo e a Ana e contanto com a revisão de amigos (os leitores beta que azucrinei com perguntas e testes) comecei a pesquisar sobre o tema literatura digital e acabei descobrindo cursos a respeito (online, claro), blogs variados e um grupo na Europa que faz experimentos diversos com literatura + digital. Grande parte do que vi é o tipo de mistura que, para meu gosto pessoal e intransferível, está mais para arte visual do que literatura – ou seja, a palavra deixa de ser o elemento central para atuar como mera figurante. Os sons e efeitos passam a ter mais relevância que a estrutura das frases, mas não digo isso para desprezar ou desqualificar tais experiências – aliás, adorei esse projeto aqui. Apenas decidi buscar alternativas que manter a palavra como elemento central. Se conseguirei? Buenas… veremos em breve.
Adorei esse post <3
“Deixem o e-book ser um símile do impresso com as vantagens da portabilidade. As respostas? Sou uma retrógrada”
Retrógrada? Sei não, viu? Eu prefiro o velho e bom livro impresso, este sim é compartilhável.