Ler é diferente em impresso e e-book?


Você prefere impresso ou e-book?

Quem gosta de ler e costuma conversar sobre suas leituras provavelmente já se deparou com algum questionamento ou papo sobre a preferência de leitura em papel ou no meio eletrônico. Sou quase capaz de apostar que sua preferência de leitura é o impresso. Acertei? Se não, você faz parte de um grupo ainda restrito, viu!? Para a maioria, ler impresso e e-book não é a mesma coisa.

Algumas críticas ao livro eletrônico, abstraindo o apego emocional dos bibliófilos (grupo no qual também me enquadro, embora de modo um tanto flexível), podem ser pertinentes em algumas situações, mas com o crescimento e evolução dos smartphones, parece-me que as resistências tem cada vez menos justificativas baseadas em fatos.

Telas e atenções

Apesar dos e-readers já serem vendidos no Brasil há um bom par de anos, ainda é comum ouvir como resposta, quando pergunto a alguém sobre seus hábitos de leitura de e-books, que a tela do computador é muito desconfortável e cansativa. Impossível discordar. Aliás, na minha opinião, tablets ficam quase na mesma categoria quando se fala na leitura de textos ficcionais, especialmente os mais longos.

A inadequação tem a ver com conforto de leitura (tela e-ink e papel são incomparavelmente mais confortáveis para os olhos do que qualquer tela LCD, LED ou qualquer outra que emita luz. Mas isso já são favas contadas, muito já foi discutido a respeito nos debates sobre o espaço ocupado por e-readers x tablets, essa “batalha” já foi perdida – e-readers com tela similar ao papel não conquistaram o mercado brasileiro e as notícias que me chegam dão conta de um crescimento expressivo da leitura em celulares.

Há outras questões, penso, como a condição de concentração. A disputa com outras leituras e afazeres quando nos encontramos diante de um equipamento conectado à web não podem ser ignoradas. Leitura, ainda que seja também um entretenimento, só cumpre seu papel quando é possível concentração total no ato de ler. Estar presente no texto, envolvido realmente com seu conteúdo (isso, claro, quando o escritor logrou êxito e produziu um texto capaz de conquistar o leitor).

Não faço coro com aqueles que atribuem todos os problemas associados com ou resultantes do baixo índice de leitura no Brasil ao uso crescente da internet e das redes sociais que fisgam um público amplo, de qualquer idade, afinal, disputas com outros tipos de entretenimento sempre foram acusadas – antes era a televisão, e antes inda talvez o rádio.  Durante muito tempo, mesmo sem nenhum aprofundamento sobre o processo da leitura sob a perspectiva dos processos cognitivos, neurológicos ou o que seja, afirmei que a atenção era sempre parcial para leituras ditas “online”. E, considerando que atenção parcial equivaleria à compreensão reduzida, a leitura em computadores ou tablets e smartphones, que estão sempre conectados, geraria  perdas na experiência de leitura.

A observação do mundo ao redor e a oportunidade de discutir o assunto com outras pessoas, no entanto, me fez olhar para a questão de uma forma diferente.

Ler com ou sem atenção

Olhando para pessoas nas paradas de ônibus, no transporte coletivo e nas praças de alimentação, notei que seus mergulhos nos smartphones parecem plenos de concentração – embora nem sempre se trate de leitura, pois cresce o compartilhamento de imagens e videos – a ponto de perderem completamente o contato com o entorno imediato.

Por outro lado, tive oportunidade de conviver com muitos jovens em atividades de leitura executadas em suporte impresso, que não conseguiam se conectar com os textos. Que muitas vezes tinham grande dificuldade de decifrar o sentido de frases relativamente simples e se mostravam distantes de qualquer interpretação subjetiva, demonstrando uma clara lacuna nas suas habilidades de leitura – problema que parece amplamente disseminado entre jovens oriundos de um sistema de ensino, no mínimo, frágil.

Juntando essas duas pontas, chego à conclusão de que o suporte pode até desempenhar algum papel no processo de apreensão durante a leitura, mas muito menos impactante que todo o restante do contexto que envolve a formação de um leitor e que inclui exemplo, valorização da atividade, capacitação para a leitura efetiva, vínculo com a temática do texto. Mas, sigo convicta de que uma fez inoculado o gosto pela leitura em um indivíduo, pouco importa onde ele vai ler, vai fazê-lo com a gana necessária.


Sobre Maurem Kayna

Maurem Kayna é Engenheira Florestal, baila flamenco e é apaixonada pela palavra como matéria-prima para a vida. Escreve contos, análises sobre a auto publicação e tem a pretensão de criar parágrafos perenes.

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